Não basta dirigir-se ao rio com a intenção de pescar peixes; é preciso levar também a rede
A delicadeza com que os provérbios são expressos traduz mensagens mais poderosas do que as inicialmente percepcionadas. Este provérbio chinês é um desses exemplos. Uma frase simples, que é enquadrável nas artes da pesca, alerta para mais do que um ofício ou situação vivencial quotidiana.
Este provérbio fala de objectivos e de planeamento, sinalizando a necessidade fundamental de que estejam ligados entre si para que se atinjam os resultados esperados. Arriscaria dizer que, na maioria das situações, é muito fácil determinar um objectivo e que o desafio está em definir o processo para o alcançar.
Muitas vezes, há a tentação para atribuir ao contexto e a terceiros o insucesso pela “faina”, quando, na realidade, a responsabilidade pelo resultado apenas se resumiu a um residual processo de planear recursos.
O planeamento é um processo para alcançar fins, tanto a nível individual como organizacional. Se, nalguns contextos, muitos o classificam como perda de tempo, estaremos certamente perante uma atitude com falta de visão e estratégia com consequências e resultados que, mais tarde ou mais cedo, serão evidências que falarão por si mesmas.
O processo de planear é um investimento de tempo que permite reunir informação relativa à consecução do objectivo, no sentido de analisar recursos disponíveis e de antecipar condições necessárias para que o esforço e a energia sejam congruentes com os resultados que se desejam alcançar.
Já escrevi aqui sobre esta matéria, salientando que «a responsabilidade de “fazer acontecer” pertence a cada um de nós, enquanto agentes de um percurso que nos pertence».
São muitas as situações que nos levam a depreciar e/ou terceirizar o planeamento:
Desvalorização da importância do objectivo per se
Associação linear de que planear é perda de tempo
Disposição emocional interna
Cristalização em experiências anteriores
Aposta em análises superficiais
Retenção em excesso de confiança
Ausência de sentido de organização
Falta de foco
Incapacidade de análises holísticas
Crença de que terceiros suprirão o necessário
Em todas as possíveis justificações, é importante salientar que assiste a responsabilidade pela opção. Embora se possa entender que, numa primeira experiência, possa ocorrer o erro por desconhecimento, este entendimento é desadequado quando o acontecimento reincide, e nesse patamar o erro passa a ser deliberadamente uma opção.
Ter benévolas e ancoradas intenções é um ponto de partida que alicerça a nossa capacidade de projectar, desenvolver, executar, transformar e crescer internamente. Contudo, uma intenção sem planeamento é tão-somente um desígnio. A fase que coloca em modo integrado a nossa capacidade de incorporar recursos individuais – técnicos e sócio-relacionais – é a mais desafiante e estimulante. A isso se chama planear. Só nesse momento se abre a janela da oportunidade de executar.
Muitas pessoas perguntam onde se integra o avaliar. Se tivessem planeado, já saberiam a resposta. Porque, num bom planeamento, a ferramenta de avaliar já foi equacionada, a par da definição cronológica em que acontece.
É tão simples “pescar”: basta atentar no que se vai pescar, onde, quando, quem e como.
✍ Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico. ✓ Revisão de texto realizada por José Ribeiro