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O talento pode ser esquecido, mas não perdido


Os provérbios, como mensagens de qualidade, simples e transparentes, podem gerar reflexões positivas e alertar para pequenos detalhes da vida. Este provérbio poderia ser orientado com este objectivo.

O tema da gestão dos talentos é bem mais denso do que se possa crer. A começar pelo próprio conceito, que alguns contextos e circunstâncias teimam em querer agregar consenso de que o talento tem de obedecer a um formato ou medida universal.

Este artigo afasta-se do intuito de definir “talento” à luz de um arquétipo universalista.

O talento é um património individual, que pode ser inato e/ou desenvolvido em contexto, concretizado em resultados ou acções. Existem talentos de diferentes formas e intensidade, pelo que rapidamente se percebe a sua natureza dinâmica e impossível de obedecer a um esboço prescrito.

E mesmo que se ceda à tentação de considerar que não temos talentos, ou de julgar os nossos pares pela ausência de talentos, estes fazem parte da nossa maravilhosa natureza humana e, em algumas circunstâncias, foram o factor diferenciador na mestria da sobrevivência e da evolução da espécie.

Se os talentos são um património individual diferenciador, porque são sublimados e/ou negligenciados? Esta é uma fascinante pergunta; e embora as explicações possam ser várias, destaco duas:

  • Os talentos são subvalorizados à luz de um paradigma dominante de conhecimento

  • Os talentos são ameaças à “ordem instalada”

Nas Organizações onde nos movemos, a reflexão e a acção em torno da gestão dos talentos tem sido pautada por um registo ambivalente. Nalguns contextos, é uma área trabalhada e desenvolvida como forma de valorização e retenção dos Recursos Humanos, por oposição a outros contextos em que é um “não-assunto” como forma de normalização e regulação dos Recursos Humanos.

Na minha opinião, as Organizações que fidelizam as pessoas por via do reconhecimento e desenvolvimento dos seus talentos – sejam eles técnicos ou sociocomportamentais – são as que sustentarão os seus alicerces num Mundo em mudança, desafiado pelo avanço veloz da tecnologia, pela efervescência da automatização e pela emergência da Inteligência Artificial. Os talentos serão, sem dúvida, o tecido vivo diferenciador que nos tornam indispensáveis nos contextos organizacionais.

Pelo contrário, as Organizações que castram e negam os talentos estarão a remar contra a maré e a descartar o património seguro e criativo que poderia ser creditado no seu crescimento e desenvolvimento.

Por muito que se castre e sublime, os talentos continuam dentro das pessoas e, embora com expressão de menor autoconfiança, poderão ser novamente reactivados, desde que se encontrem os desafios, ingredientes e pessoas certas que os galvanizem.

Podemos “colocar os talentos nas prateleiras”, uma imagem simbólica e figurativa que, infelizmente, se traduz em vivências reais nas Organizações. Podemos considerar que assim o “problema” está resolvido e que criaremos exemplos que moldarão os comportamentos expectáveis. A pior cegueira é aquela que não corresponde a um estado real.

As Organizações que valorizam as pessoas, na teoria e na prática, serão sempre as mais desejadas. Aprenderam pela experiência que os talentos devem ser reconhecidos e granjeados pelos próprios proprietários e pelos seus pares. Expressam, pelas palavras e pelas acções, que ambas as partes integram a equação da gestão e retenção de talentos. E as pessoas falam dessas Organizações com orgulho e sentimento de pertença.

Desenganem-se as “Outras Organizações” que pensam e agem de uma forma antípoda, isto é, que terão sucesso na sua diáspora de cercear os talentos. Podem considerar que estão a conseguir, mas isso é apenas uma interpretação baseada num egocentrismo bacoco. Acredito que um dia concluirão que estão orgulhosamente sós.

Para resumir este artigo, termino citando Friedrich Nietzsche: “Não basta ter-se talento: é preciso ter-se o vosso assentimento para o possuir – não é verdade, meus amigos?”.

Felizes das Organizações que têm esta nobre capacidade de o assentir.

Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico. Revisão de texto realizada por José Ribeiro

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