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Quem quer a bolota trepa


As palavras partilhadas em frases curtas que se ampliam em sabedoria popular são flechas certeiras. Neste âmbito, os provérbios, como mensagens de qualidade, simples e transparentes, podem gerar reflexões positivas e alertar para pequenos detalhes da vida. Este provérbio poderia ser orientado com este objectivo.

Sabemos que o percurso da vida humana é marcado por oscilações e por desafios constantes que colocam à prova a capacidade de analisar e agir face às circunstâncias. Não existem “receitas” para as situações e, mesmo que isso pudesse ser um aparente conforto, reconhecermos esta premissa pode motivar-nos, pela possibilidade infinita de “ingredientes” que podemos gerir em quantidade e qualidade para ultrapassar os desafios.

Neste capítulo de agregação de ingredientes com vista à receita individual de superação, somos seres individuais e diferentes. Contribui para a natureza individual da acção um denso e multiforme património que influencia as atitudes e os comportamentos. O que faz a diferença efectiva? A forma como cada pessoa incorpora e categoriza esse património e a responsabilidade que assume – ou não – pela sua atitude e comportamento.

Quando tudo corre bem e estão reunidas as máximas e ideais condições para atingir objectivos e alcançar resultados, é tudo aparentemente mais facilitador. A fasquia da complexidade aumenta proporcionalmente à medida que as condições facilitadoras começam a ser menores e, ao inverso, começam a emergir condições que se consideram adversas.

Sublinhei “consideram” com um carácter intencional. A percepção e interpretação do que são as circunstâncias é um factor crucial para a disposição e consequente acção. Neste campo, cada um deve fazer o seu trabalho de autoconhecimento e conhecer o seu padrão de percepção – ameaça versus oportunidade. Na natureza humana, existem pessoas que consideram, com uma maior profusão, todas as circunstâncias – mesmo que supostamente facilitadoras – como ameaças ao seu bem-estar e à sua progressão. Ancoram-se no locus de controlo externo, e tudo o que lhes acontece é sempre culpa do meio externo, entregando, na totalidade, a responsabilidade das reacções ao contexto e aos seus pares. Pelo contrário, existem pessoas que se ancoram no locus de controlo interno e, embora tenham a clarividência na análise de que não geraram as situações, assumem a responsabilidade pela reacção individual.

Os padrões acima mencionados são, como se pode compreender, determinantes no momento de “trepar para atingir a bolota”. Face à crença individual do controlo e da responsabilidade pelas atitudes e comportamentos, o restante será influenciado.

Como referi, não existem “receitas”, mas os ingredientes que temos, que por vezes não são usados e/ou mobilizados de forma estrategicamente adequada, confeccionam os resultados.

Quase tudo está ao nosso alcance, uma maravilhosa condição que nos garantiu a sobrevivência até aos dias de hoje. Somos, à face da Terra, os seres vivos dotados de maior plasticidade, ao contrário de outros seres cuja existência está ameaçada caso o contexto mude abruptamente ou de forma continuada.

Entende-se que existem ingredientes nucleares no processo de concretizar a plasticidade com que fomos dotados: vontade e esforço. Diz o povo que “querer é poder”, uma frase que jamais é inocente. É uma fundamentação deliberada, com uma mensagem prática sobre a maravilhosa competência comportamental de agir face a resultados. Embora seja o primeiro passo crucial, o querer, per se, pode ser apenas uma intenção, caso seja divergido de um plano de acção.

Com uma boa dose de pragmatismo, facilmente se conclui que a vontade e o esforço estão sob a alçada individual e que, mesmo que o contexto limite estes “superpoderes”, continua a estar sob a jurisdição individual a manutenção do registo de persistência e resiliência.

Quem, de facto, deseja a bolota – leia-se aqui o fruto em sentido figurado – orienta todas as suas energias, capacidades, aptidões e atitude para a obter. Desvaloriza e sublima as forças repulsivas que pretendem o contrário. Não se queixa do terreno, da árvore, dos recursos, do tempo que faz, de quem passa, de quem não lhe deu os equipamentos adequados, entre outros. Assume o comando da situação e repete internamente que quer a bolota e a vai conseguir. Chama-se a isto esforço. E, uma vez conquistado o resultado, não se vangloria nem tão-pouco arremessa censuras aos pares pela ausência de apoio e/ou cooperação no processo. Auto-reconhece o seu valor e galvaniza para si mesmo a energia, muitas vezes transformando-se espontaneamente em exemplo de bravura. E há momentos em que se torna um modelo inspirador para outras pessoas que ainda continuam a tentar alcançar um resultado ou que pretendem empreender um processo fora da sua área de conforto.

Termino citando um provérbio chinês: “a persistência realiza o impossível”.

Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico. Revisão de texto realizada por José Ribeiro

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