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Fez do lobo o guardião das ovelhas.


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Os provérbios e as suas mensagens, tantas vezes em modo de reflexão sobre o mundo e as acções ou opções dos que o habitam, são um manancial rico. Este provérbio, que nos chega da Índia, está densamente povoado de reflexões.


Comecemos pelo conceito de “guardião”. Independentemente do dicionário que se consulte, é para nós claro que este é um papel exercido – por nomeação ou por altruísmo – com o objectivo de garantir a salvaguarda de um bem (seja ele material ou imaterial). Entende-se, assim, que este papel é de grande responsabilidade, sendo expectável que cumpra o seu papel com “cabeça, tronco e membros”. Quando o guardião se encarrega de seres com vida, maior responsabilidade se lhe associa.


Se nos lembrarmos de situações reais ou de ficção do papel de guardião, esta personagem surge como um elemento que representa e defende o legado, cuidando dele e protegendo-o. É a personagem que representa a voz dos que tem a seu cuidado, que zela pelo seu bem-estar, que ensina, que partilha, que admoesta, que escuta, que aconselha, que empodera, que se sacrifica quando a ameaça surge. Facilmente, com estas características, associamos esta personagem a um papel de liderança. Creio que todos nós nos sentimos confortáveis com uma liderança que representa a sua equipa, que a defende perante ameaças internas ou externas, que dá espaço para crescer, que gera sentimento de pertença, que usa da sensatez para gerir as dinâmicas previstas e imprevistas, que guarda, protege e cuida.


Curiosamente, são muitos os provérbios que usam a metáfora dos animais para traduzir mensagens mais universais que representam as nossas vivências a nível da relação, da liderança, da gestão da comunicação, do tempo, do stress. Este, em específico, nitidamente muito conectado com a liderança e de como uma escolha menos adequada (diria um erro de casting) pode levar ao extermínio das ovelhas, consideradas aqui em sentido simbólico.


A escolha de um guardião – seja pela sua competência ou pela simpatia que o “recrutador” lhe tem – é um acto de responsabilidade. Delegar a alguém a guarda – aqui lida como liderar, cuidar, estimar, orientar, empoderar, reconhecer – é, na minha opinião, uma das acções de maior responsabilidade na vida de uma Organização ou de outro tipo de forma social. Um mau líder – porque os há, sejam quais forem as razões, umas deliberadas, outras de inocência imatura – pode, com a sua acção, comunicação, relação, destruir a dinâmica de uma equipa e, em muitos casos, “desmoronar” excelentes profissionais.


Por muito que se treinem competências e se faça uma gestão da atitude e comportamento, dificilmente haverá uma ovelha que considere que o escolhido lobo será o seu representante ou o seu guardião. Um lobo será sempre um lobo, ainda que ornamentado de pele de cordeiro.


Quando uma Organização escolhe os seus guardiães, crê-se que exista um propósito, que essa selecção seja realizada com uma relação conectada entre objectivo e resultado. Os chamados “erros de casting” existirão amiúde, porque uma certa dose de imprevisibilidade habita nas relações humanas. Mas que o erro de casting não seja uma acção deliberada com o propósito de minar, dividir, esventrar, anular, silenciar. Isso tem um nome – mobbing – e deve ser denunciado.


Aprendemos tanto enquanto seres humanos! Tantos livros se publicam diariamente sobre o desenvolvimento e empoderamento humano! Tanta investigação, tanta formação! Poderemos dizer que vivemos num mundo organizacional do obscurantismo onde o conhecimento continua “fechado a sete chaves” nos mosteiros?


Como acautela outro provérbio, “o tempo não come o lobo”. Um lobo será sempre um lobo e, mais dia menos dia, saciará a sua fome, sacrificando uma ou mais ovelhas. Cabe a cada um estar vigilante e, caso necessário, identificar até que ponto vale a pena estar num local onde se sacrificam deliberadamente pessoas para saciar outros elementos do ecossistema. Numa Organização, contrariamente ao reino animal, não deveriam existir nem presas nem predadores, pois as equipas existem por um bem maior.


Ou isso é claro ou então continuamos, de facto, a viver na era das cavernas e apenas ainda descobrimos o fogo, que agora acendemos com recurso a uma aplicação que descarregamos.


Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico.Revisão de texto realizada porJosé Ribeiro

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