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O valor do rigor – quem escolheríamos para preparar o nosso pára-quedas?


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Há algum tempo, participei de uma conversa fascinante que me fez reflectir sobre o valor do rigor e do brio nas nossas vidas. Começámos por rir da ironia de como alguém meticuloso é frequentemente rotulado de “picuinhas” – um termo que, inadvertidamente, diminui o valor do cuidado e da atenção aos detalhes. Esta discussão levantou uma questão intrigante sobre a nossa cultura de trabalho: estamos realmente a valorizar o fazer com “cabeça, tronco e membros”, ou estamos a cair na armadilha de separar a “cabeça” do processo, priorizando apenas a execução rápida?

 

No meio dessa reflexão, surgiu uma pergunta poderosa: “Se pudesses escolher, quem querias que preparasse o teu pára-quedas? O picuinhas ou o não-picuinhas?” Esta simples questão coloca em evidência o valor real do rigor e do meticuloso detalhe. É interessante pensar que, quando as nossas vidas estão literalmente em jogo, parece que a escolha se torna clara, não é?

 

Ter rigor e brio no trabalho vai além do perfeccionismo ou obsessão, como alguns lhe chamariam. Trata-se de entender que cada tarefa, por mais simples que pareça, carrega compromisso e responsabilidade. O nosso trabalho impacta um todo maior, muitas vezes invisível.

 

Pensemos em exemplos concretos. Um programador que testa exaustivamente o código não está a ser “picuinhas”, mas apenas a garantir que o software funcionará sem falhas para milhares de utilizadores. Um formador que prepara minuciosamente as suas sessões não está a ser excessivo, mas apenas a investir num processo de valor acrescentado que permitirá estruturar o fio condutor face aos resultados de aprendizagem que se esperam.

 

O rigor e o brio acrescentam um valor inegável: qualidade superior do trabalho final, maior confiabilidade e segurança. No entanto, manter estes padrões pode ser um desafio, e há quem diga que é uma “entropia”. Enfrentamos desafios como pressão de tempo, recursos limitados e, por vezes, a percepção negativa dos outros. O truque está em encontrar o equilíbrio entre o perfeccionismo e a praticidade, sem comprometer a qualidade essencial.

 

A longo prazo, o compromisso com o rigor e o brio não apenas molda o posicionamento individual, mas também pode influenciar positivamente a cultura organizacional e impulsionar a inovação e o progresso. É uma abordagem que transcende o mero cumprimento de tarefas; é um compromisso ético com a excelência e com os outros.

 

Para cultivar estas qualidades, podemos começar por estabelecer padrões pessoais acima do mediano, praticar a atenção plena e procurar feedback construtivo. Trata-se de desenvolver uma mentalidade em que cada acção é vista como uma oportunidade de excelência, sem importar quão pequena ou desinteressante possa parecer.

No final, talvez pudéssemos encarar as nossas responsabilidades como se estivéssemos a preparar um pára-quedas. Nunca sabemos realmente o impacto final das nossas acções ou quem poderá depender do nosso trabalho no futuro.

 

O rigor e o brio não são luxos – são necessidades que honram o compromisso individual com a excelência e com os outros. Esta reflexão lembra-me do privilégio que é estar rodeado por pessoas que nos desafiam intelectualmente e nos fazem pensar mais profundamente; que exigem mais do que apenas “a rama” – sustentada na cultura do mediano ou do “desenrasque”.

 

Esta forma de estar na vida poderia ser mais do que um acto casuístico para se transformar num padrão, em modo de herança que se granjeia para a vida, que as Organizações promovem e de que se orgulham como fazendo parte do seu ADN. E – quem sabe?! – talvez um dia, metaforicamente falando, o “pára-quedas”, que se prepara com tanto cuidado e atenção, possa salvar alguém – ou até nós mesmos.

 

Sim, sabemos que o tempo voa e que, num mundo em “velocidade de cruzeiro”, ter um “picuinhas” na equipa parece atrasar o processo. Será atrasar ou promover qualidade do processo e resultado(s)? As respostas não são imediatas, por certo. Será, sem dúvida, importante clarificar se é um elemento assertivo ou puramente manipulador, que usa a “lentidão” para gerar benefícios individuais. Se as evidências conduzirem a um elemento que pensa e sente o “nós”, pode ser benéfico olhar o “picuinhas” com um filtro menos duvidoso e mais empático, como forma de prevenir a sua extinção.

 

Que seria de nós sem esta atenção ao detalhe? Muitos projectos já teriam, por certo, caído por terra. O “picuinhas”, muitas vezes incompreendido, pode ser o herói silencioso que continua a ser o farol em dias de nevoeiro intenso. A sua meticulosidade pode ser a diferença no (in)sucesso, entre a segurança e o perigo.

 

Finalizo com duas perguntas. Como reagimos no dia-a-dia a esta forma de ser, estar e fazer? E nos desafios da vida, a quem confiaríamos a preparação do nosso pára-quedas?


Revisão de texto realizada por José Ribeiro

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